quarta-feira, 28 de março de 2012

Punks de Boutique, Cowboys de Apartamento e Bipolares de Fancaria

Sabemos que um Punk de verdade não se resume às roupas rasgadas ou surradas que ele usa. Ser Punk é um modo de ser, pensar e respirar. Dizem até que Punk de verdade não toma banho, o que eu duvido. Ao menos uma vez na semana ele deve se banhar...

Mas o que eu quero dizer é que ninguém é Punk porque vestiu uma calça de couro, subiu numa moto e arrepiou os cabelos com gel. Punk que é Punk tem as calças surradas porque as usou até a exaustão, porque senta-se no chão, em qualquer lugar, não tem cuidado. Quem compra uma calça já surrada na boutique, não é Punk, porque não teve a atitude de usá-la até estragá-la. Quem compra calça surrada para parecer Punk, não é Punk de verdade, ou melhor, é Punk de boutique...

A atitude de desgastar a calça com o uso, até que ela se rasgue ou fique surrada, é uma atitude que caracteriza o verdadeiro Punk. Mas há pessoas que podem usar uma  calça durante anos, que ela nunca vai se rasgar ou se estragar, simplesmente porque o estilo de vida dessa pessoa não permite isso. A calça não vai estragar se você só se senta em poltronas macias ou se você só a usa em ambientes aconchegantes.

De igual maneira, Cowboy de verdade é aquele que monta a cavalo ou, num rodeio, sobe num touro sem medo de cair, porque ele sabe que vai ser arremessado ao chão no fim das contas. É aquele que usa o chapéu para proteger o rosto do sol.

Quem usa um chapéu de Cowboy na cidade, dentro de um ambiente refrigerado ou numa noite sem sereno, por pura vaidade, não é Cowboy de verdade. O Cowboy vai à cidade de cahpéu porque saiu do campo de chapéu. O cowboy usa chapéu à noite porque já estava com ele na cabeça durante o dia. Se o Cowboy entra num ambiente refrigerado usando chapéu, é porque ele vem de um lugar ao ar livre e esqueceu o chapéu na cabeça. Ou não teve onde deixá-lo.

Cowboy de verdade não usa o chapéu por vaidade ou para fazer tipo, ainda que possa cuidar de seu chapéu com zelo e ter orgulho dele.

Quem se fantasia de Cowboy, não é Cowboy de verdade. A atitude faz o Cowboy; não a roupa.

Do mesmo modo, quem não passa por crises de depressão e de euforia, não é bipolar de verdade. Quem se diz bipolar porque é moda e não porque apresenta sintomas de TAB, é como o Punk de boutique ou o Cowboy de apartamento.

É curioso como muitas pessoas se autodenominam bipolares enquanto os bipolares de verdade estão buscando tratamento para anular os sintomas do TAB. É por causa dessas e outras atitudes, praticadas por pessoas normais, que podemos dizer que vivemos num mundo louco. Mas assim são as pessoas normais. Completamente loucas...

Mas, depois dos Punks de boutique e dos Cowboys de apartamento, os bipolares de fancaria já não me surpreendem. É a última moda. É a última loucura das pessoas normais. Aguardemos a próxima moda quando esta (a de ser bipolar) finalmente tiver passado...

Haveria um lado bom (aliás, um lado ótimo) se as pessoas se informassem a respeito do que elas afirmam ser. Mas quem é Punk de boutique não quer descobrir o que é ser Punk de verdade, tem até receio dos verdadeiros Punks, ou do contrário se aproximaria destes. Afinal, qual é o impedimento? Quem é Cowboy de apartamento geralmente odeia terra e sol na cara, e bebe leite de caixinha como qualquer pessoa da cidade, de modo que, para o Cowboy de apartamento, a vida do Cowboy de verdade é completamente ignorada. Ao menos na prática.

Se o Cowboy de verdade tivesse que se mudar para um apartamento na cidade, ele fugiria para o campo sempre que possível. De preferênica, a galope, montado num cavalo. Mas o Cowboy de mentira, o Cowboy de apartamento, só "foge" de casa para o clube social ou para o shopping. Nunca a cavalo.

Do mesmo modo, os bipolares de fancaria não procuram saber o que é TAB e ficam sendo uma coisa que eles mal sabem o que é... Isso diminuiu o preconceito? Ao que parece, não. Mostre a um bipolar de mentira um bipolar de verdade e ele não vai se reconhecer, não vai se identificar.

Em poucas palavras, você pode dizer que é bipolar, desde que não o seja de fato. Afinal, quando a próxima moda chegar e você tiver que deixar de ser bipolar para ser outra coisa, será preciso saber "curar-se" a tempo de estar em dia com o último grito, a última moda... Você não vai querer ficar para trás quando esse momento chegar, vai?


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quarta-feira, 21 de março de 2012

Mitos e Verdades Sobre o Transtorno Bipolar

Encontrei esta ótima postagem de José Luís, no Blog Hispano Trastorno Bipolar, e não pude deixar de traduzi-la para vocês. Leia o texto original espanhol clicando aqui.


Mitos e Verdades Sobre o Transtorno Bipolar

Enfrentemos antes de mais nada uma verdade incontestável: a grande maioria das pessoas desconhece por completo a enfermidade. O Transtorno Bipolar continua sendo um grande desconhecido e se usa injustamente para definir, às vezes, pessoas que se entediam, pessoas que estão deprimidas ou pessoas que por natureza não são muito dadas a se relacionar com os demais. Não é raro tampouco escutar alguém dizer que alguém é “bipolar” só porque mudou de opinião sobre algo ou porque não se encaixa em nenhuma outra categoria.

Infelizmente, também basta uma pesquisa rápida em qualquer site de buscas da Internet para ler em mil e um fóruns comentários de adolescentes que se alcunham a si mesmos de bipolares sem terem recebido nenhum diagnóstico médico. O Transtorno Bipolar NÃO é um estado de espírito ou uma forma de ser. É uma enfermidade que pode chegar a ser terrível e que às vezes leva quem dela padece ao limite de sua capacidade física e psicológica.

Felizmente, também se pode lutar contra ela e ganhar. O primeiro passo é separar os mitos das verdades...

Falso Mito 1: “Todos os bipolares oscilam constantemente e sem remédio entre a mania e a depressão.”

Falso, falso, falso! Bem, quase sempre. A verdade é que algumas pessoas sim alternam entre mania e depressão rapidamente (cicladores rápidos), mas a grande maioria sofre de depressão muito mais frequentemente que de episódios maníacos. De fato, a maia em muitos bipolares pode ser tão suave, que costuma passar despercebida.

Certamente, também há bipolares que passam dias, semanas e inclusive meses sem padecer de nenhum sintoma. Às vezes essa situação de “paz” emocional (chamada Eutimia) se deve a uma medicação correta, a um ambiente estável ou a um grupo de apoio eficiente... mas outras simplesmente acontecem, falando claro, de forma espontânea. Sim, a evolução de um Transtorno Bipolar ainda é um mistério às vezes, mas felizmente cada vez se estuda e se conhece mais. Não seria de estranhar que esta fosse a década em que se consiga dar um passo de gigante na luta.

Falso Mito 2: “O Transtorno Bipolar só afeta o estado de espírito.”

O quê? Como? Falso, falso e mais que falso! Mesmo que pareça mentira a esta altura do século XXI, muitas pessoas ainda consideram os bipolares “deprimidos”, “instáveis” ou inclusive os alcunham de “paranoicos”. Mas o Transtorno Bipolar não é estar sempre triste, nem tampouco é uma maneira diferente de se sentir, nem certamente é um mero ataque emocional. Os bipolares sofrem de uma enfermidade com consequências que, sem tratamento adequado, podem ser terríveis para o paciente e para as pessoas à sua volta.

O Transtorno Bipolar “brinca” com o estado de espírito e o humor, mas também afeta à nível de energia, pensamento crítico, memória, concentração, apetite e inclusive desejo sexual. Por quê? Porque é uma enfermidade originada no cérebro e que afeta as conexões entre neurônios. Essas conexões afetam TUDO o que fazemos, TUDO o que pensamos e TUDO o que em definitivo acreditamos que somos. Por isso, é importante atender de forma especial às “quedas” na autoestima dos pacientes, o que pode levá-los a estados de ansiedade ou inclusive a cair nas drogas ou no álcool.

Por último, também se demonstrou que os afetados por Transtorno Bipolar correm um maior risco de sofrer hipertensão, enxaqueca e inclusive diabetes.

Falso Mito 3: “Um bipolar diagnosticado não pode melhorar porque não se descobriu nenhuma cura confiável, nem ele pode levar uma vida normal.”

Se não fosse má educação, juro que eu começaria a rir. É uma mentira das grandes! É completamente falso! E o pior de tudo é que isto mesmo é o que costumam garantir as pessoas mais ignorantes do mundo sobre o assunto. Mas no fundo não é só culpa deles, mas também dos próprios bipolares que em não poucas ocasiões exteriorizam seu sentimento de estigma.

Seja como for – e apoiam minhas palavras milhares de histórias de sucesso e superação no mundo –, é falso que um bipolar não possa levar uma vida normal e inclusive sobressair-se. Muitos bipolares têm carreiras profissionais brilhantes, relações familiares e amorosas felizes.

Não é minha intenção enganar a ninguém. Viver e enfrentar o transtorno bipolar não é fácil, mas com o tratamento correto, as técnicas adequadas para controlar os sintomas e um sistema de apoio bem desenhado, pode-se alcançar uma vida plena e FELIZ. É um fato, uma realidade e uma esperança que ninguém jamais deveria tirar de um bipolar.

Falso Mito 4: “Além da medicação, não há nada no mundo que se possa fazer para controlar um Transtorno Bipolar.”

Até há uns poucos anos, esta era uma das grandes verdades científicas sobre a enfermidade. Mas atualmente nenhum especialista se atreve a questionar que é falso. Falso, falso, falso!

Sim, a medicação é o alicerce irrenunciável para o tratamento efetivo do Transtorno Bipolar, mas já se demonstrou que, sem aliados mais mundanos, seu índice de sucesso é muito menor. A terapia emocional e as técnicas de autoajuda têm um papel essencial para a vida de um bipolar.

Pode-se aprender a controlar o aparecimento de sintomas, a “vê-los vir” antes que aconteçam. Também se pode atenuar os efeitos do Transtorno Bipolar seguindo rotinas diárias específicas, monitorando os ciclos da enfermidade e criando um círculo próximo de “aliados” para lutar contra a enfermidade. Dormir bem, consumir alimentos saudáveis e evitar o estresse são só três hábitos que por si sós podem fazer a diferença entre um bipolar estável e um que sofre.

A todos os amigos que fiz ao longo dos anos, faço a mesma pergunta: Vale a pena não tentar?

Tome hoje, por fim, as rédeas de sua vida.

José L. González
http://www.TrastornoBipolarWeb.com


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O que os leigos deveriam saber sobre bipolares

quarta-feira, 14 de março de 2012

Como identificar um adolescente bipolar?

Nas postagens anteriores, tivemos uma ideia de como é, tipicamente, o transtorno bipolar em adultos (TAB I e II) e em crianças.

No transtorno bipolar na adolescência, costumamos ver um meio-termo entre TAB adulto e TAB na infância. As fases de um adolescente, de modo geral, são mais definidas ou delimitadas que as de uma criança, ainda que geralmente mais curtas que as de um adulto, e a sintomatologia mista ainda é presente ou não “desapareceu” completamente.

Um adolescente bipolar, entretanto, também pode apresentar fases definidas de mania e depressão, por exemplo, de modo que ele seja diagnostico ainda na adolescência como bipolar do tipo I ou II. Nada impede que seja assim, e isso realmente acontece. Mas nesta postagem, antes de tudo, quero falar do que é típico ou generalizado.

A maioria das crianças e adolescentes, como dissemos em outra postagem, fica dentro do espectro bipolar, isto é, sofrem de TAB SOE ou ciclotimia.

O diagnóstico de ciclotimia, não raro, dá lugar ao de transtorno bipolar.

O TAB SOE, por sua vez, é uma espécie de diagnóstico de espera, ou seja, é usado enquanto não podem ser observadas fases definidas ou claras de depressão, mania, etc. Mas também há adultos que sofrem de TAB SOE, ressaltemos.

Seja como for, chegando à vida adulta, as fases menos claras do adolescente costumam dar lugar a fases mais definidas, e a sintomatologia mista costuma “abrir-se” em fases de mania e de depressão, por exemplo. Mas ainda não há estudos longos, de muitos anos, acompanhado bipolares adolescentes. Não se sabe ao certo, sequer, se é a mesma enfermidade em adultos e em crianças e adolescentes.

Geralmente o transtorno bipolar, na adolescência, começa entre 13 e 17 anos. A primeira fase de mania costuma vir entre 18 e 25, mas pode vir antes.

De modo geral, também em adultos, o transtorno bipolar começa com uma fase de depressão ou há algum evento traumático que o antecede, como o fim de um casamento ou um acidente grave. Mas lembre-se de que nem todas as pessoas se traumatizam com os mesmos eventos.


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Como identificar um bipolar?
Como identificar um bipolar do tipo II?
Como identificar um ciclotímico?
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quarta-feira, 7 de março de 2012

Como identificar uma criança bipolar?

Nas últimas 5 postagens da série, falamos, sobretudo, de bipolares adultos. Você já sabe que aquilo que é típico em adultos, é atípico em crianças e a adolescentes.

Mas também há diferenças entre crianças e adolescentes bipolares.

De modo geral, em adultos, vemos fases definidas ou claras, que fazem contraste com os períodos de vida normal. As fases em adultos, geralmente, apresentam um número mínimo de sintomas exigidos pelo CID-10 e duram, também, o tempo mínimo exigido. Estamos falando das fases de depressão, mania e hipomania que caracterizam o transtorno bipolar do tipo I ou II.

Embora as fases mistas também caracterizem um transtorno bipolar do tipo I, elas são atípicas em adultos e estão associadas a um a agravamento da enfermidade, geralmente depois de um bom período em que os sintomas se manifestaram sem que fossem tratados. Ainda assim, as fases mistas podem ser as primeiras a aparecer em adultos.

Numa criança, é típica a sintomatologia mista, isto é, sintomas de depressão e de mania que acontecem ao mesmo tempo ou que se alternam rapidamente. (Lembre-se do que você já leu sobre fases mistas estáveis e instáveis.) Mas uma criança também pode ter um “episódio maníaco”, por exemplo. As fases mistas, não sendo vistas como ciclagem ultradiana, podem durar anos.

Embora não haja uma boa diferença entre ciclagem ultradiana e fases mistas instáveis, a ciclagem ultradiana também é típica de crianças. Nela, há fases de depressão que duram poucas horas e fases de euforia que também duram poucas horas, e elas se alternam várias vezes ao longo dia, pelo menos 4 vezes. Na ciclagem ultradiana, note bem, as variações de humor constituem fases distintas e, não, uma única fase mista.

Numa criança, é mais comum o humor irritado que o humor eufórico.

Para sermos mais práticos, uma criança bipolar típica apresenta sintomas de depressão e de euforia na maior parte do tempo, e esses sintomas, salvo pelo que foi dito acima, se manifestam de modo igual ou semelhante àqueles que vemos nas fases mistas estáveis ou instáveis já descritas quando falamos de bipolares mistos. Há antes irritação que euforia nos períodos de humor elevado ou humor misto. E os sintomas geralmente se manifestam sem que possamos definir ou delimitar o início ou fim das fases claramente. Não há ou não chega a haver aquela ideia de ciclos mais longos e mais definidos, que é típica de bipolares adultos.

Pode haver hipomania em vez de mania.

Crianças constantemente mal-humoradas ou irritadiças deveriam ser melhor observadas.


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