quarta-feira, 25 de abril de 2012

Veronika Decide Morrer, de Paulo Coelho

Veronika é uma jovem que tenta o suicídio e, no fim das contas, acorda numa clínica psiquiátrica. A tentativa havia fracassado e Veronika passa a viver como interna. A maior parte do romance se desenvolve na clínica e é aí que encontramos o Dr. Igor, o personagem mais interessante depois da protagonista.

Veronika é informada por ele de que morrerá dentro de alguns dias devido a complicações cardíacas decorrentes dos calmantes que ela ingeriu ao tentar o suicídio. O tempo, entretanto, vai passando. À medida que a morte não vem, a estadia de Veronika na clínica vai se alongando, contra sua vontade, até que chegamos a um ponto de ruptura. Veronika foge da clínica... (Não, não ria. A cena da fuga do hospício não é engraçada; é até bastante bonita e provavelmente você se alegrará pela protagonista.)

A longo da história, entretanto, o leitor sabe da experiência do Dr. Igor e entende por que Veronika não morria.

Direta ou indiretamente, Paulo Coelho é mencionado aqui e ali. A primeira vez é a que mais chama a atenção. Mas depois das primeiras páginas, após o narrador ter mencionado um jogo em CD-ROM do próprio Paulo, o leitor entra definitivamente na história e daí por diante chega facilmente ao final do livro, que tem um bom desfecho (na opinião da maioria) e um ótimo desfecho (na minha opinião).

Quem já teve a oportunidade de ler "Verónika Decide Morir" (versão espanhola, Editora Planeta, Argentina, Ano 1999), sabe que o romance traz um subtítulo na capa: "Una novela sobre la locura" (um romance sobre a loucura). Com loucura, obviamente, queremos dizer a depressão da protagonista, sua permanência na clínica, os demais internos, os profissionais da área que ali trabalham, a visão dos de fora, etc.

Antes da tentativa de suicídio, notemos, houve a vontade de morrer, o planejamento e a preparação, abrangendo um período considerável de tempo. Isso corresponde à realidade das pessoas que sofrem de depressão. Tais pessoas não se suicidam da noite para o dia como muitos pensam, mas depois de várias semanas ou pelo menos após alguns meses. Outros sintomas da depressão da protagonista, além da ideia de morte, são a falta de perspectiva de futuro e o desânimo com sua vida atual, ainda que aparentemente ela não tivesse motivos para se sentir assim.

Outros internos, com quem Veronika convive, são Zedka (depressão), Mari (síndrome do pânico) e Eduard (esquizofrenia). Por este, Veronika se apaixona. Não esperemos, entretanto, uma série de loucuras. A vida na clínica é até bastante tranquila, apesar de todas as suas peculiaridades, outro ponto da história que corresponde à realidade. Porque, ao menos nas boas clínicas, os internos estão sob o devido tratamento. O próprio Paulo já esteve internado, lembremos.

Talvez ainda devêssemos falar das freiras e das pessoas leigas com as quais a protagonista mantinha contato...

Veronika vivia num quarto alugado às freiras, num convento, e talvez isso queira nos sugerir que a proximidade com a Religião (não importa qual, obviamente) não é o bastante para curar alguém da depressão ou para torná-lo livre de qualquer enfermidade cujo tratamento compete aos psiquiatras e psicólogos. Não pensemos, entretanto, que o romance fala de Religião. Ao menos não de modo direto. Essas páginas, devo dizer, são poucas e logo o leitor esquece que a protagonista vivia num quarto cedido pelas freiras. Seja como for, o exemplo bíblico usado pelo narrador, ao fim do romance, nos traz à mente outra vez a ideia de Religião.

Sobre as pessoas leigas, elas tampouco parecem ter percebido a depressão de Veronika. Foram amigos diversos que reuniram os calmantes que ela ingeriu em sua tentativa de suicídio. Foi a maneira que Veronika encontrou de conseguir os remédios em quantidade excessiva sem levantar suspeitas. Ela os havia pedido a vários amigos sob o pretexto de que tinha dificuldades para dormir. Só não lhes avisou que pretendia dormir o sono eterno... Talvez isso queira sugerir que nossa Sociedade, tal como ela é, contribui de algum modo para a loucura e o suicídio ou para os distúrbios mentais. Essas páginas do romance também são poucas.

Quase toda a história, ressaltemos, consiste na estadia de Veronika na clínica, na ideia de que temos uma vida valiosa embora às vezes ela pareça banal ou vazia, e no questionamento do conceito de normalidade.

Sobre "A Montanha Mágica", de Thomas Mann, também tenho algo a dizer.

A Montanha é um romance bastante conhecido. Nele, o protagonista também é internado numa clínica para o tratamento de uma doença respiratória e sua estadia ali, igualmente, vai se prolongando por tempo indeterminado. Não pensemos, entretanto, que ambos os romances se pareçam muito. Muitas pessoas leriam os dois e não veriam semelhanças.

A semelhança está, sobretudo, na ideia de continuar internado por tempo indeterminado ou maior que o previsto quando já queremos voltar à vida aqui fora. Também está em sugerir que a grande loucura seja exatamente este nosso mundo ou esta nossa aparente normalidade. Além do mais, a clínica (a de Paulo ou a de Mann) não é senão um reflexo da Sociedade fora dela. Em ambos os romances, há um amadurecimento do personagem principal e uma certa história de amor entre ele e outro interno.

Se você ainda não leu um romance de Paulo Coelho, comece com Veronika. Ele está mais próximo do nosso estilo de vida ocidental e da loucura do nosso dia-a-dia que O Alquimista, por exemplo. Não é um romance para fugir da realidade, mas para aproximar-se dela. Livro indicado especialmente para mulheres entre 18 e 35 anos, acostumadas aos best-sellers americanos.

Também existe o filme, de 2009, ambientado em Nova York e com o mesmo nome. Não posso falar dele, porque não o vi, mas dizem por aí que o livro é melhor que o filme.



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