quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Entre sono e sonhos, de Fernando Pessoa

Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

domingo, 28 de agosto de 2011

Espectro Bipolar - Entrevista com Akiskal

Se preferir, leia esta matéria em seu site de origem. Esta matéria foi publicada originalmente na Folha.com


Médico questiona diagnóstico de depressão

CIÇA GUEDES

free-lance para a Folha

"Nossos estudos mostram que muitos tipos de depressão são transtornos bipolares que acometem de 6% a 8% da população. Com essa constatação, podemos salvar pessoas dos tratamentos com antidepressivos, que podem fazê-las piorar"

(...)

O psiquiatra americano Hagop Akiskal, 58, diretor do International Mood Center, é o responsável pela descoberta de que os transtornos de humor -que a medicina chama de transtornos bipolares- estão na raiz de muitos casos tidos como de depressão clássica.

"Ele mostrou ao mundo que o transtorno bipolar não é raro como se imaginava e que possui formas brandas. A psiquiatria, como qualquer especialidade médica, deve partir de um diagnóstico correto para ter sucesso no tratamento.

Há casos em que os antidepressivos são um veneno, fazem o paciente acelerar o ciclo da depressão", diz o psiquiatra brasileiro Olavo Pinto, que, com Akiskal, escreveu o estudo "Espectro Bipolar" em 1999.

Nesta entrevista exclusiva, Akiskal -que tem mais de 500 trabalhos publicados (entre eles 16 livros) e recebeu, neste ano, o prêmio máximo da World Psychiatric Association- conta como desenvolveu seu trabalho.

Folha - Como chegou à conclusão de que há mais doenças que devem ser tratadas como transtorno de humor?

Hagop Akiskal -
Foi uma necessidade baseada na observação clínica. Foi uma longa batalha contra o estigma da doença mental, que começou a cair nos anos 70. O tratamento psicoterápico demanda tempo, e, quando comecei na psiquiatria, em 1969, tínhamos muitos pacientes, mais de 500 num único ambulatório. Muitos pacientes eram considerados ansiosos, neuróticos, neurastênicos, limítrofes. Esses estados eram, em geral, considerados como problemas de comportamento e até mesmo decorrentes de problemas cardíacos. Nesses casos, a pessoa apresenta tendência ao pessimismo, tem um ritmo mais lento, está sempre meio caída. Está apta para o trabalho, mas não sente prazer no que faz, por exemplo. Não é uma doença grave, é um temperamento melancólico. Usamos pequenas doses de antidepressivos, e, em geral, a doença se agravou.

Folha - Como saber se a doença que atormenta o paciente é um transtorno de humor?
Akiskal -
Tratei um paciente que é um bom exemplo. Era um jovem, obeso, pessimista e entediado. Dei antidepressivo porque era preciso combater a insônia. Três semanas depois, ele estava num estado de excitação que o fazia acordar cheio de energia. Mas ele não gostava, não sabia o que fazer com essa energia. Quando ele me contou que o irmão havia se tornado maníaco, que tomava lítio, ficou claro que era a mesma doença. O diagnóstico mudou de depressão unipolar, depressão neurótica, para transtorno bipolar, com todas as implicações que isso tem no tratamento. Para tornar a situação ainda mais interessante, seu pai apresentava o tipo de personalidade que os psicanalistas chamam de narcisista e nós, psiquiatras, chamamos de hipertímica. São pessoas muito autoconfiantes, cheias de energia, generosas e hipersexualizadas, em geral bem-sucedidas.

Folha - Esse comportamento também é um transtorno de humor?
Akiskal -
Existem diferentes condições. Há os maníacos-depressivos, a condição mais grave, em que ocorrem os episódios de euforia e depressão e que atinge cerca de 1% da população. Os bipolares, que apresentam episódios curtos de melancolia durante um ou dois dias. Os ciclotímicos têm como principal característica a instabilidade do humor. Há os deprimidos que buscam excitação nas drogas, como cocaína, anfetaminas, cafeína, álcool. E há os hipertímicos, pessoas muito bem-sucedidas, cheias de energia, que podem ficar deprimidas porque é muito difícil se manter o tempo todo nesse estado de forte excitação, de excessiva autoconfiança.

Folha - Por que as pessoas com pique são bem-vistas?
Akiskal -
As pessoas com temperamento bipolar encantam, comunicam-se bem, são mais emocionais. Certamente há muitos genes envolvidos nesse temperamento que foram importantes para a evolução da humanidade, estavam presentes nos exploradores, nos homens que gostam de correr riscos, de desafios. A bipolaridade refere-se exatamente a isso, aos estados de muita energia, de muita excitação. A doença acontece quando há desequilíbrio. Quando doente, na chamada fase maníaca, a pessoa se expõe a riscos e situações embaraçosas. O paciente precisa entender que terá de ceder um pouco de energia para atingir o equilíbrio, mas a idéia não é alterar seu temperamento. Há novas drogas, como os estabilizadores de humor.

Folha - Qual é a incidência dos transtornos do humor?
Akiskal -
Nossos estudos estão mostrando que muitos tipos de depressão são, na verdade, transtornos bipolares. Pode-se dizer que acometem de 6% a 8% da população. Essas pessoas não devem ser tratadas com antidepressivos, esses medicamentos podem fazê-las piorar. Também é importante destacar que, em nossos estudos, verificamos que o perigo do suicídio é realmente alto entre as pessoas deprimidas por transtornos bipolares. Para consumar esse ato, é preciso uma energia que o deprimido clássico não apresenta. Essa é mais uma razão para buscar um diagnóstico preciso.



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sábado, 27 de agosto de 2011

[Resenha] Breno Melo - Marta

Saiu uma resenha bem bacana de Marta no Livros, Letras e Metas, escrita por Robledo Filho. A resenha começa assim:

Ao iniciar seu primeiro romance publicado, Breno Melo nos alerta que Marta é uma obra que permite múltiplas leituras. Antes de nos apresentar devidamente aos pormenores que caracterizam o contorno da sua personagem-título, o autor expõe diferentes ópticas sob as quais o seu romance pode ser analisado: a popular, a médica, a filosófica e a pessoal. Em todas, a característica bipolar de Marta - à qual voltaremos mais tarde, nesta mesma resenha - recebe ênfase, e o autor nota, com perspicácia, que a bipolaridade é o "assunto da moda". Essa referência levemente irônica imediatamente me fez lembrar dos inúmeros perfis de redes sociais que contêm, na parte "Descreva-se" (ou algo similar), a palavra "bipolar". Pensem bem: essa palavra está sendo corretamente usada? Todas essas adolescentes que amam o Twitter são realmente bipolares? Mas esse último tópico rende um artigo inteiro; prendamo-nos à resenha.


Clique aqui para ler toda a resenha.


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O que alguns bipolares famosos já disseram - Miquelângelo

1.
A perfeição é feita de pequenos detalhes - não é apenas um detalhe.
 
2.
Espero que eu sempre possa desejar mais do que consigo fazer.
 
3.
Como faço uma escultura? Simplesmente retiro do bloco de mármore tudo o que não é necessário.
 
4.
A minha alegria é a melancolia.
 
5.
Se as pessoas ao menos soubessem o quão duro eu trabalho para ser mestre no que faço, não lhes pareceria tão maravilhoso.
 
6.
O amor é a asa veloz que Deus deu à alma para que ela voe até o céu.
 
7.
Em cada bloco de mármore, vejo uma estátua; vejo-a tão claramente como se estivesse na minha frente, moldada e perfeita na pose e no efeito. Tenho apenas de desbastar as paredes brutas que aprisionam a adorável aparição para revelá-la a outros olhos como os meus já a veem
 


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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Distúrbios bipolares: eu amo minha outra personalidade

Este texto foi traduzido do site SameStory.com. Se preferir ler este texto na íntegra e em seu idioma de origem, clique aqui.
 



Il y a quelques jours, après que l'un des membres de ma famille..., isto é, Há alguns dias, depois que um dos membros de minha família me mostrou que eu tinha os sintomas de uma pessoa ciclotímica, eu quis saber mais. Eu então descobri o que era o distúrbio bipolar.

(...)
 
Pesquisando um pouco na Internet, eu tentei autodiagnosticar-me. Segundo meus sintomas, eu seria bipolar tipo II. Com períodos ruins (depressão, com grande vontade de dormir e pouca vontade de fazer as coisas...) e períodos normais. E um terceiro período, diferente, visto o lapso de tempo que ele dura (algumas horas) de hiperatividade, ou não sei o que, a nível intelectual.
 
Esses momentos de hiperatividade do pensamento me permitem ser ultra-produtivo (eu além disso passei a escrever durante esses momentos para tentar ter uma imagem de minhas ideias, pensamentos). Esses momentos são para mim mais proveitosos que maléficos. Mas é verdade que é praticamente impossível para mim escolher o tema de meus pensamentos, salvo se eles são a minha paixão (psico, informática, conceitos, invenções...). E se eu não escrevo nesse momento, se não ponho os pensamentos no papel, eu sou extremamente distraído; não fixo a atenção em tema algum. Eu tenho o enorme mal de ter uma discussão na mesma intensidade em que meu cérebro esteja em ebulição. Mas eu adoro esse estado, em que eu permaneço muitas vezes num transe.
 
Ainda vou consultar um psiquiatra nesta jornada. Meus 5 últimos psicólogos jamais compreenderam ou descobriram aquilo que eu posso ter, e eles têm-me dito até mesmo que eu não tinha mais motivo para ir a um psicólogo.
 
De minha parte, a bipolaridade é uma coisa boa, que me permite ter estados (breves) de uma baita produtividade intelectual, que ocorre durante os estados normais, intercalados com depressões (um pouco mais espaçadas).


(...)
 
PS - Eu confundi certamente todos os termos exatos.



Esses estados de hiperatividade que duram algumas horas, em que nosso amigo francês relata uma grande produtividade, lembram os períodos de hipomania da ciclotimia, que costumam ser mais curtos que aqueles do TAB II. Além do mais, o TAB II sendo mais perceptível que a ciclotimia, teria sido notado mais facilmente pelos psicólogos que ele mencionou. Mas estes não notaram sequer a ciclotimia...
 
Se um familiar reconheceu sintomas ciclotímicos, lembremos que este, pela convivência, pôde acompanhar de perto aquelas alterações de humor mais breves da ciclotimia, não dependendo apenas dos relatos do paciente ou outros meios.
 
Seja como for, o testemunho acima nos forneceu três opiniões: 1) A do nosso amigo francês; 2) A de seu familiar; e 3) A dos psicólogos.
 
A opinião 3), obviamente, é preferível às outras.
 
Falta a opinião do psiquiatra que nosso amigo pretende consultar...
 
Além do mais, as maiores semelhanças (para não dizer os maiores equívocos) aparecem quando leigos e até mesmo profissionais comparam ciclotimia e TAB II e, não, quando comparamos ciclotimia e TAB I. Por motivos óbvios, é claro. Daí que, se o francês autor deste relato era pelo menos (eu disse pelo menos?) ciclotímico, fica fácil entender sua confusão.
 
Poderíamos falar de espectro bipolar, que engloba não só ciclotimia, mas também outras formas sutis de TAB? Certamente.


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Enfrentando a vida com Transtorno Bipolar

Um bipolar e sua razão para lutar
A Janela
É necessário? Não, não é necessário
Pessoas próximas sabem que sou bipolar

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O que alguns bipolares famosos já disseram - Lord Byron

1.
Coma, beba e ame: o resto, de que nos serviria?
 
2.
Aqueles que se recusam a serem chamados à razão, são intolerantes; aqueles que não conseguem, são idiotas; e aqueles que não se atraem, são escravos.
 
3.
O melhor profeta do mundo é o passado.
 
4.
Na vida do homem, o amor é uma coisa à parte. Na da mulher, é toda a vida.
 
5.
Ainda que eu tivesse de ficar só, não trocaria a minha liberdade de pensar por um trono.
 
6.
É na solidão que estamos menos sós...
 
7.
Não falo, não suspiro, não escrevo seu nome. Mas a lágrima que agora queima a minha face me força a fazê-lo.
 
8.
Por que eu deveria sofrer pelos outros quando ninguém irá suspirar por mim?


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O que alguns bipolares famosos já disseram - Marilyn Monroe
O que alguns bipolares famosos já disseram - Janis Joplin
O que alguns bipolares famosos já disseram - Jimi Hendrix

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Dispersão, de Sá-Carneiro

Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.

Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...

Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.

(O Domingo de Paris
Lembra-me o desaparecido
Que sentia comovido
Os Domingos de Paris:


Porque um domingo é família,
É bem-estar, é singeleza,
E os que olham a beleza
Não têm bem-estar nem família).

O pobre moço das ânsias...
Tu, sim, tu eras alguém!
E foi por isso também
Que te abismaste nas ânsias.

A grande ave dourada
Bateu asas para os céus,
Mas fechou-as saciada
Ao ver que ganhava os céus.

Como se chora um amante,
Assim me choro a mim mesmo:
Eu fui amante inconstante
Que se traiu a si mesmo.

Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que projeto:
Se me olho a um espelho, erro —
Não me acho no que projeto.

Regresso dentro de mim
Mas nada me fala, nada!
Tenho a alma amortalhada,
Sequinha, dentro de mim.

Não perdi a minha alma,
Fiquei com ela, perdida.
Assim eu choro, da vida,
A morte da minha alma.

Saudosamente recordo
Uma gentil companheira
Que na minha vida inteira
Eu nunca vi... Mas recordo

A sua boca doirada
E o seu corpo esmaecido,
Em um hálito perdido
Que vem na tarde doirada.

As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei.
Ai, como eu tenho saudades
Dos sonhos que não sonhei!...

E sinto que a minha morte —
Minha dispersão total —
Existe lá longe, ao norte,
Numa grande capital.

Vejo o meu último dia
Pintado em rolos de fumo,
E todo azul-de-agonia
Em sombra e além me sumo.

Ternura feita saudade,
Eu beijo as minhas mãos brancas...
Sou amor e piedade
Em face dessas mãos brancas...

Tristes mãos longas e lindas
Que eram feitas pra se dar...
Ninguém mais quis apertar
Tristes mãos longas e lindas...

Eu tenho pena de mim,
Pobre menino ideal...
Que me faltou afinal?
Um elo? UM rastro?... Ai de mim!,..

Desceu-me na alma o crepúsculo;
Eu fui alguém que passou.
Serei, mas já não me sou;
Não vivo, durmo o crepúsculo.

Álcool dum sono outonal
Me penetrou vagamente
A difundir-me dormente
Em urna bruma outonal.

Perdi a morte e a vida,
E, louco, não enlouqueço...
A hora foge vivida,
Eu sigo-a, mas permaneço...


.........................................

Castelos desmantelados
Leões alados sem juba

.........................................

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O que alguns bipolares famosos já disseram - Cazuza

1.
Estou careta, não bebo, não tomo drogas, não estou mais na noite; estou tratando de mim de um jeito que nenhuma babá trataria. Nunca tinha ido a um médico até os 30 anos... eu não sabia que tinha um corpo e que ele podia falhar um dia.
 
2.
Hoje sei que vendo meu bacalhau, mas meu lance mesmo é a poesia, que eu mastigo e vomito no público.

  
3.

Eu causo nas pessoas um tipo de enjoo com meu jeito, com minha carência, com minha ânsia por atenção. Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja o meu pior defeito...
 
4.

Homem que é homem volta atrás, mas não se arrepende de nada. [Isto é, não se arrepende de ter experimentado.]
 
5.
Sempre só. Eu vivo procurando alguém que sofra como eu também, mas não consigo achar ninguém.
 
6.
Desde os 13 anos, levei uma vida muito louca. Quando a gente é jovem, não percebe que as ressacas vão ficando cada vez piores.
 
7.
Se pedem uma música, uma semana depois vou lá com a fita.
 
8.
Você está vivo. Esse é o seu espetáculo. Só quem se mostra se encontra. Por mais que se perca no caminho.


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domingo, 21 de agosto de 2011

O Analista de Bagé e o TAB



Visitando o blog Chá de Hortelã, da Liliana, encontrei um post interessante sobre TAB e ganho de peso. Mas o que me chamou a atenção de verdade foram os comentários. Reproduzi aqui 5 deles. Com qual objetivo? O de entendermos por que há bipolares não-diagnosticados, tema que não era, nem de longe, o do post em Chá de Hortelã...

O primeiro comentário (o do anônimo de Vacaria) nos dá uma ideia do motivo pelo qual muitos bipolares não são diagnosticados, levam muitos anos até que o sejam ou, pior, falecem antes que recebam diagnóstico e tratamento.

Os outros 4 comentários (escritos por bipolares) são respostas ao anônimo de Vacaria. (Nada contra a cidade, obviamente! Que isto fiquem bem claro. Eu o chamaria pelo nome, mas ele não se identificou, limitando-se a mencionar a cidade onde vivia sua mãe e parentela. Ele pode não viver aí, mas foi Vacaria que ficou na mente dos bipolares que leram seu comentário...)


Anônimo de Vacaria disse:
É interessante essa história de bipolar. Os psiquiatras não tem mais nada pra fazer e ficam inventando doença pras criatura[s] ficar[em] dizendo: "Ai, eu sou bipolar" ou "O meu filho é hiperativo".

Como que antes não existia nada disso? As pessoas são muito sujeitas ao que se dizem muitas vezes, daí acabam com os sintomas descritos mesmo não tendo nada.

Quando minha mãe vivia na fazenda da minha vó lá em Vacaria, interior do RS, não existia nada disso e ela e todos os seus 9 irmãos tão aí bem fortes.


Refúgio Poético disse:
Que bom que lá em Vacaria todos da sua familia estão bem fortes e com saúde e nenhum tentou o suicídio e conseguiu sua finalidade por ser bipolar. Seria um marco, um trauma para todos não tenha dúvida disso.

Eu sou bipolar tenho uma filha de 18 anos e nós duas sofremos muito com isso, me trato com psiquiatra que não tem mais nada o que fazer somente para não cometer suicídio e minha filha que não mora em Vacaria ter uma mãe.

Vontade de viver não tenho nenhuma porque estou em fase depressiva e tomo remédios que claro você nunca ouviu falar. No seu mundo é tudo frescura. Afinal em Vacaria as pessoa
[s] morrem e nem se sabe o porque.



wellinghton disse:
querida bom dia… pois para mim que escrevo é manha… vc tem transtorno bipolar? vc convive com alquem que tem[?]… acho que nao[,] eu tenho 26 anos de idade[,] venho tentando suicidio des dos nove anos… tenho poucos amigo pois nimquem ten saco para meus altos e baixos.e graças a deus descobri [que sou bipolar.]aos 22 anos[,] depois de ficar preso numa torre de celular por mais de 5 horas sem consiencia apenas preço por meu pé[,] descobri que tenho trastorno bipolar …. assim sei qual sao minhas limitaçoes..e [a]te que medicasao tomar… mais que pena vc nao sabe o que estou dizendo pois acxha que trastorno [bipolar] é doença do futuro e posso te dizer que nao …….pois varios nomes da hi[s]tori[a] tinha[m] trastorno [bipolar]…….. sem falar que sua vidinha deve ser um maximo para ficar criticando a dor do outro… cuidado pois isto tambem é um tipo de trastorno……nao sei o nome centifico mais o popular é falar dos outro para fugir do meu….. deus te abençoe[.]


Daniel disse:
Ignorância tem tratamento também, ok? Basta se informar…
"como antes não existia nada disso…?"
Assim como antes não existia câncer, alcoolismo, hiv, alzheimer.



Andréa S. L disse:
Se vc acha que transtorno bipolar não é uma doença é por que nunca ficou dias sem dormir, pensando que é a rainha de não sei lá o quê e que está cima do bem e do mal, sem falar que quando esta crise passa todos te olham e dizem: – olha lá aquela louca !!! Gostaria de ser lembrada como a louca ? Ou de entrar em uma depressão que não tivesse vontade nem de comer ou tomar um banho ? Acha que isso não é doença ? Então te dou um conselho ! Nunca discurse sobre o que não conhece !!! E desejo que continue na ignorância, porém com respeito a nós bipolares. Por que não desejo a ningué essa doença.

E que bom que lá em Vacaria não existia nada disso. Mas será que ninguém morreu de outra doença não ?!!! Não existe só transtorno bipolar nomundo !!! 

 


Pois bem! O que dizer do anônimo de Vacaria? Creio que já disseram quase tudo acima...
 
Mas eu costumo comentar que ninguém tem um médico ao lado 24 por dia, de modo que, se uma pessoa apresenta sintomas de TAB, os primeiros a notar costumam ser os amigos e parentes. Em poucas palavras, quem costuma encaminhar o bipolar a um profissional da área são pessoas leigas, que não sabem o que está havendo, mas que percebem que algo está errado.
 
Mas imagine agora que todas as pessoas leigas do mundo fossem como o anônimo de Vacaria. Imaginou? Pois é! Ninguém mais encaminharia amigos ou parentes aos profissionais da área, e ninguém mais morreria de TAB, simplesmente porque ninguém mais receberia o diagnóstico de transtorno bipolar... Viveríamos como em Vacaria, onde ao que parece não há bipolares e os psiquiatras não têm o que fazer...
 
Agora, imagine também bipolares não-diagnosticados pensando como o anônimo de Vacaria... Seria bom?

O triste é que muitas pessoas realmente pensam como o anônimo de Vacaria, o que nos ajuda a entender por que os bipolares levam em média 10 anos até que recebam o diagnóstico correto. Há outros números, entretanto, que dizem que essa média fica em 7,5 anos. Seja como for, muita coisa pode acontecer nesse meio-tempo, incluída a possibilidade de óbito, seja através de suicídio, seja através de um acidente, como cair de uma torre de celular...

Ainda sobre o tema deste post, a Ana, no blog Manual do Bipolar, já havia dito: Um dos maiores problemas dos portadores de Bipolaridade é a falta de informação de familiares e amigos e/ou o fato de não saberem interpretar seus sintomas e saberem o que é a doença. O anônimo de Vacaria, infelizmente, ilustra bem o que a Ana diz. Em outras palavras, Desgraça pouca é bobagem... ou Mal, seja bem-vindo se vier só. (O TAB sozinho, sendo perfeitamente tratável, era pouco. Tinha que haver mais; tinha que haver os anônimos de Vacaria para que o TAB fosse um drama realmente digno de nota...)

Ainda assim, o que poderíamos dizer em favor do anônimo de Vacaria? Não me agrada só criticar alguém; há sempre um elogio que podemos fazer... Vejamos. Poderíamos dizer que ele... e também... Pois é! Este é o maior elogio que sou capaz de fazer a ele no momento... Maior elogio que esse, depois de seu comentário no Chá de Hortelã, ficou difícil. Muito difícil.


Moral da história? O Luís Fernando Veríssimo que me perdoe, mas o anônimo de Vacaria me lembrou muito o Analista de Bagé – este mais sensível que aquele, é claro...


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Transtorno Bipolar
O futuro da palavra bipolar
Bipolares não-diagnosticados
Revelar a bipolaridade ou não revelar. Eis a questão
Pessoas normais: um bicho de sete cabeças

sábado, 20 de agosto de 2011

O que alguns bipolares famosos já disseram - Kurt Cobain

1.
Ninguém morre virgem, a vida fode todo mundo antes disso.
 
2.
Se o meu sorriso mostrasse o fundo da minha alma, muitas pessoas, ao me verem sorrir, chorariam comigo!
 
3.
Nos últimos cinco anos eu desejei a morte todos os dias. Algumas vezes cheguei bem perto.
 
4.
Depois de uma hora de conversa [os jornalistas] acham que podem fazer uma avaliação de nossa personalidade. Por terem as credenciais acham que podem fazer esse tipo de coisa, deveriam ser psiquiatras e não jornalistas.
 
5.
Não gosto de coisas óbvias, se é óbvio não tem graça.
 
6.
Eu nunca quis cantar. Eu só queria ficar tocando guitarra no fundo do palco.
 
7.
Todas as drogas são uma perda de tempo. Elas destroem sua memória, seu respeito e tudo o mais que vem com sua auto-estima... Descobri que elas são uma perda de tempo.
 
8.
Até quando eu serei capaz de gritar até arrebentar os pulmões toda noite, durante um ano inteiro de turnê?


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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Pessoas próximas sabem que sou bipolar

Este texto foi traduzido do site SameStory.com. Se preferir ler este texto na íntegra e em seu idioma de origem, clique aqui. 


A quem devemos falar ou não sobre a bipolaridade?
 
Toda a minha família em geral e amigos, e mesmo vizinhos, sabem disso por mim. Francamente, foi difícil esconder... fases maníacas muito visíveis, o mesmo em se tratando das depressivas. Agora, já não deixo isto aparecer em meu "cartão de visitas", logo à primeira vista...
 
Mas, como estou assintomática e não sofro mais autualmente, quando me perguntam aquilo que penei como Job, e que não peno mais, me ocorre dizer durante a conversa que padeço de bipolaridade para sondar um pouco as pessoas, para testá-las. Como em geral as pessoas não sabem o que é bipolaridade, eu lhes digo que é aquilo que se chamava antigamente de loucura! É necessário fazer alguma coisa para mudar a imagem da doença mental. Pode-se dizer que esta é minha contribuição. Ao mesmo tempo, isto me permite avaliar as pessoas.
 
Durante inúmeros anos, eu não poderia ter tido essa atitude, pois eu sofria de "efeitos secundários leves", mas bem presentes, da doença. Eu não podia ir às festas; eu não podia escutar música porque o barulho me incomodava; meus pensamentos eram lentificados (nos diálogos, as respostas tardavam a se elaborar na minha cabeça, finalmente chegando em grande número quando a oportunidade de responder já havia passado).

(...)
 
No começo, temos muitas vezes tendência a crer que há uma etiqueta colada sobre nossa testa e para as outras pessoas somos identificados, quase obrigatoriamente, por adjetivos negativos.
 
Por esconder a doença, muito do que poderíamos dizer não é dito, mas, ao mesmo tempo, muitas informações falsas são divulgadas pelas nossas costas.

(...)


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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O que alguns bipolares famosos já disseram - Jimi Hendrix

1.
Para mudar o mundo, você precisa antes mudar a sua cabeça.
 
2.
As vezes em que queimei minha guitarra foi como um sacrifício. Você sacrifica as coisas que você ama. Eu amo a minha guitarra.
 
3.
Se eu sou livre, é porque estou sempre fugindo.
 
4.
Eu tenho sido imitado tão bem, que ouço as pessoas copiarem meus erros.
 
5.
É engraçado como a maioria das pessoas ama os mortos; quando você morre, está pronto para a vida.
 
6.
Me dá licença que vou beijar o céu.
 
7.
Você precisa seguir e ser doido. A loucura é como o paraíso.
 
8.
Você tem que ignorar o que as outras pessoas dizem quando você vai morrer ou quando vai amar. Você tem que esquecer todas essas coisas.


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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Alguém sabe da Rifenha?

Fico pensando na Rifenha de Vimianço, na bipolar tipo II que vive na Galiza e mantinha um blog. O que ela estará fazendo agora?

Se ela ainda vive na fazenda de sua irmã, ainda deve mirar pela janela de seu quarto, avistando ao longe, toda noite, a fachada da Churrascaria Santos com o seu letreiro cor-de-rosa. Ignoro se a Rifenha já foi a essa churrascaria, ignoro se ela a frequentava. Tudo o que sei é que a churrascaria estava lá, ao alcance de seus olhos, assim como o vale de Vimianço.

Deve ser curioso avistar um mundo do qual não somos parte ou não nos sentimos parte. Durante muito tempo a Rifenha manteve-se afastada do mundo externo, reclusa devido a uma depressão. Ela tinha o mundo inteiro lá fora, mas não o frequentava. Não digo que Vimianço seja uma grande cidade como Madri ou Barcelona, ambas também na Espanha, mas ao menos Vimianço era o mundo de que a Rifenha dispunha para o seu dia-a-dia. Vimianço podia não ser muito, só um valezinho na Galiza, mas era o mundo da Rifenha.

Ela ainda frequenta Vimianço? Ela ainda frequenta este nosso mundo? Ignoro a resposta...


A Rifenha não deixava de olhar além da janela, avistando o casal de garças e os postes de cimento onde pousava o gavião que ela observava e pretendia fotografar. Mas, se ela aparecia junto à porta, o gavião a via e batia asas, voando para outro poste, mais afastado. É triste, muito triste que uma pessoa procure aproximar-se de um ave, de um animal quando está em depressão. Os outros seres humanos não deveriam lhe inspirar mais confiança?

Há quem não esteja em depressão e afaste-se dos demais, isolando-se também. Como censurar a Rifenha? Talvez a mente deprimida dela seja mais sensata que a dos sãos deste mundo, que não conhecem depressão nem a Rifenha de Vimianço...

O gavião ainda deve voar por lá, pela fazenda da irmã da Rifenha. Com sorte, deve haver ratos e outros pequenos roedores por lá, de modo que o gavião deve estar gordo e bem-nutrido neste verão, recuperando o peso que perdeu no inverno, quando há escassez de alimentos. Neva na Galiza no inverno, no Noroeste da Península Ibérica. Sim, no hemisfério Norte onde vive a Rifenha, agora é verão. Mas o que terá sido dela? Espero que também esteja gorda e bem-nutrida como o gavião, mas não servindo-se do mesmo cardápio, é claro. Talvez a Churrascaria Santos, tão perto para a maioria das pessoas e tão longe para a Rifenha durante a depressão que ela experimentou, tenha lhe proporcionado alguma refeição satisfatória estes dias. Será? Ignoro tudo o que a Rifenha viveu desde 2010 para cá, porque desde então ela não publicou nada em seu blog.

Outro sinal de vida? Nenhum.

Nunca ouvi a voz da Rifenha, mas este seu silêncio em seu blog, este seu silêncio virtual, faz com que as dúvidas surjam. Será que ela se cansou do blog? Será que anda ocupada com coisas mais alegres ou deixou de ter acesso à Internet? Talvez. Mas deixemos de imaginar o que terá acontecido com ela. Não cheguemos a imaginar coisas tristes. Paremos por aqui.

Seu psiquiatra ainda deve estar atendendo em La Coruña, ou melhor, n'A Corunha como ela diz, porque ela fala galego. Sua irmã ainda deve estar vivendo na fazenda. O casal de garças, se procriou nesta última primavera do hemisfério Norte, deve estar alimentado as crias com as minhocas e os insetos da fazenda. Só espero que o gavião não coma os filhotes do casal de garças. Seria triste. Seria muito triste.

Mas haveria outra primavera, outra estação de acasalamento o próximo ano, e o casal de garças voltaria a se reproduzir. Não seria tão triste. A vida voltaria com a primavera. Haveria outros ninhos, outros ovos, outros piados.... Mas e a Rifenha? Certamente Vimianço com suas colinas ainda está lá, mas e a Rifenha de Vimianço? Ainda estará lá?

Perguntarei ao gavião. Perguntarei ao casal de garças...

A Rifenha tinha duas janelas para observar o mundo. Uma delas era o seu computador, que ela usava para publicar em seu blog. A outra era a janela de seu quarto, que dava para o vale. A primeira ela parece ter fechado, porque já não atualiza o blog. Mas e a segunda? Também terá se fechado para o mundo?

Perguntarei ao gavião. Perguntarei ao casal de garças... Perguntarei a alguém na Churrascaria Santos, se algum dia eu for à Galiza...


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A Janela (texto da Rifenha, traduzido)
É necessário? Não, não é necessário (texto da Rifenha, traduzido)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

É necessário? Não, não é necessário

Este texto foi originalmente publicado em galego pelo blog O Escunchador, da Rifenha de Vimianço. Se preferir ler este texto na íntegra e em galego, clique aqui.

A Rifenha é uma bipolar tipo II.



"É necessário sair... É necessário ser magro... É necessário...
 
"Há que fazer isto... Há que fazer aquilo... Há que..."
 
A vida é um cúmulo de "É necessário" e "há que" ou, como dizem os franceses, "Il faut", que eles dizem uns aos outros, crendo-se na possessão da verdade absoluta, sem serem aqueles que de fato compreendem a realidade interior dos demais.
 
É isso o que mais desestabiliza uma pessoa que padece de uma neurose ou transtorno bipolar, como é meu caso.
 
Como falar é de graça, todo o mundo fala, e diz o que é necessário, o que eu deveria fazer, o remédio certeiro para os meus males:
 
— "É necessário sair, é necessáio animar-se, é necessário caminhar, é necessário..." E assim vai, até que o cansaço, até que o esgotamento mental acabe com as poucas forças que uma pessoa tem para tomar a decisão de dizer: — "Sim. Hoje vou habilitar-me e sair, dar um passeio."
 
Façam o favor. Se alguma vez vocês toparem com uma pessoa que, como eu, está aguardando a tempestade passar, não lhe digam: — "É necessário."
 
Mas vocês podem perguntar a essa pessoa: — "Você tem vontade de sair, de dar uma volta? Gostaria de irmos juntos caminhar um pouco?"
 
Isto é muito importante. As obrigações são, precisamente, o que acaba esmagando os já probres e castigados neurônios de um maníaco-depressivo. Nunca se sabe o que pode acontecer quando a pressão é grande demais para suportá-la.
 
Abraços. Tenham um bom dia. (...) Vocês podem fazer acontecer e viver o seu dia como quiserem.

(...)


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Enfrentando a vida com Transtorno Bipolar
Um bipolar e sua razão para lutar
A Janela

domingo, 14 de agosto de 2011

O Morro dos Ventos Uivantes e Freud


Esta aí um livro que bem valeria por metade dos livros deste mundo! Exagero? Talvez...

Pense, antes de tudo, em Heathcliff, Catherine e Edgar. Sei que a história tem muitos outros personagens, mas você entenderá toda a história basicamente através desses três. Se pensarmos em Freud, Heathcliff representa o id, Catherine o ego e Edgar, o superego.

Se o id fosse personificado, seria aquela pessoa que faz tudo o que quer, agindo segundo seus impulsos, ou melhor, segundo seus instintos. À semelhança dos animais...

Já o superego, se fosse personificado, seria aquela pessoa que age de maneira oposta, isto é, segundo as regras, o que é correto ou recomendável. Id e superego são dois opostos...

O ego às vezes fica que nem cego em tiroteio, perdido entre o id e o superego, porque sempre está tentando satisfazer ao id e, ao mesmo tempo, não desagradar ao superego! Se o ego fosse personificado, ele seria aquela pessoa que procura evitar conflitos, tentando adequadar-se às circunstâncias. Mas também acontece que o ego pode aproximar-se do id, dos instintos, afastando-se do superego... e vice-versa. Isso me lembra muito a Filosofia de Platão, mas aí já deixamos de falar em Psicanálise para falar de Filosofia! Continuemos com Freud...

Seja como for, imagine que Heathcliff é o id, Catherine o ego e Edgar, o superego. Veja que Catherine procura adaptar-se às circunstâncias, escolhendo o que é melhor para ela. Mas Heathcliff é um animal (no bom sentido, é claro! esse personagem é incrível...), veja que Heathcliff vai até o fim para satisfazer a seus desejos... Ele é tipo o Edmundo, só que do mundo da Literatura!

Já Edgar lembra bastante o superego, especialmente quando não reage a Heathcliff em determinado momento da trama, mesmo tendo motivos para reagir, e assim continua obediente ao superego.

Note que Catherine se move entre os outros dois, a única que realmente parece oscilar, a que menos bate de frente... a que mais se adapta. Heathcliff e Edgar não são personagens, mas sentimentos de Catherine que foram personificados em outros personagens, isto é, Catherine, Heathcliff e Edgar são um só indivíduo... Desse modo, agora voltando a lembrar que eles são personagens de uma trama, não há dúvidas de que Catherine é a protagonista, porque é ela quem vive conflitos... (Lembremos que Cathy é uma continuação de Catherine, e é justamente Cathy quem acaba conseguindo conciliar id e superego. Acabado o conflito entre id e superego, portanto, não é à toa que a história chega ao fim...)

Você já viu em desenho animado alguém em dúvida, até que aparece um diabinho para tentar e um anjo para aconselhar o que é certo? O diabinho (o id), o anjo (o superego) e a pessoa em dúvida/em conflito (o ego) são um só! Esses conflitos estão dentro de nós e, não, fora. Mostrá-los fora de nós é um modo, um recurso bastante primitivo (especialmente em Teatro) de revelá-los ao público. Mas, ainda que esse recurso seja primitivo, nada impede que ele continue sendo usado, desde que se queira esmiuçar ao máximo cada elemento/sentimento/vontade que constitui o conflito. Assim, tudo fica mais visível, literalmente mais palpável para quem acompanha a história...

Sobre o livro O Morro dos Ventos Uivantes (e não os filmes que existem), ele é do século XIX. Não tem aqueles recursos dos best-sellers modernos que tanto facilitam a leitura, mas ainda assim vale a pena arriscar uma leitura. Há vários adolescentes de nossos dias que leram este romance e gostaram bastante, mas bastante mesmo! Talvez seja o seu caso, mesmo que você, a esta altura, já não seja adolescente...

Ao ler a história, ainda falando de Freud, pergunte-se até onde Heathcliff pode ter laços de sangue com Catherine, já que ele fora trazido pelo pai dela... Dependendo de suas respostas, nós nos aproximaremos uma vez mais do conflito que pode haver entre id e superego, além de outras questões freudianas, é claro!

A Janela

Este post foi originalmente publicado em galego pelo blog O Escunchador, da Rifenha de Vimianço. Se preferir ler este texto na íntegra e em galego, clique aqui.


A Rifenha é uma bipolar tipo II.


 

Tanto tempo sem sair faz com que as minhas referências da realidade sejam duas janelas: Esta virtual, por onde fico olhando aquelas coisas que me são úteis, e a janela do meu quartinho, por onde vejo uma paisagem que é, hoje, o único mundo que tenho.


Até penso em pedir a Suso que me compre uma luneta ou uns binóculos, como aqueles de James Stewart no filme de Hitchcock, não para ver algum assassino humano, mas para ver o casal de garças que voa a cada tarde sobre as árvores da margem do rio, ou o gavião que pousa encima do poste de cimento da fazenda de minhã irmã, todas as tardes também.


Sempre tento olhá-lo mais de perto e tirar-lhe uma foto, mas, quando assomo à porta, ele se põe a voar e escapa para outro poste mais distante. Qualquer movimento que eu faça, por pequeno que seja, ele sempre o detecta. Devem ser seus olhos, que não precisam de aparelhos para ver o que têm de ver.


Quando chega a noite, vejo ao longe o letreiro cor-de-rosa que fica psicando lá, acima da Churrascaria Santos, como se fosse a luz de um farol no meio de um mar à noite. E mais nada. Esse é todo o universo material que tenho desde alguns meses. No horizonte, sempre as colinas. Vimianço é um vale circular, redondo e fechado como um umbigo.



PS - Desta vez não fiz cortes. Não tive coragem de fazê-los. Este é um dos textos mais melancólicos, para não dizer tocantes, que já vi produzidos por um bipolar.


Será que algum dia a Rifenha virá aqui, no Mastigando Estrelas? Ela já não posta em seu blog desde 2010... O que terá acontecido com ela? Terá se cansado do blog? Pode ser. Dentre todas as possibilidades, tanto boas como más, pode ser...


Imaginemos a Rifenha ocupada com coisas alegres.



 
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Enfrentando a vida com Transtorno Bipolar
Um bipolar e sua razão para lutar
É necessário? Não, não é necessário

sábado, 13 de agosto de 2011

O que alguns bipolares famosos já disseram - Janis Joplin

1.
Não se venda: você é tudo o que tem!
 
2.
Estão me pagando US$50.000 por ano para que eu seja como eu sou.
 
3.
Se me importo com o que dizem de mim? O pior que podem falar de mim é que nunca estou satisfeita com nada.
 
4.
O amanhã nunca chega... é sempre a mesma porra de dia.
 
5.
Posso não durar tanto quanto outras cantoras mas sei que posso destruir-me agora se me preocupar demais com o amanhã.
 
6.
O pior que podem falar de mim é que nunca estou satisfeita.
 
7.
Você não sabe como é amar alguém como eu te amo.
 
8.
Nunca fui capaz de controlar meus sentimentos, mantê-los lá dentro. Antes, isso estragava a minha vida, sempre fui uma vítima de mim mesma. Eu fazia coisas erradas, fugia, ficava maluca. Agora faço esse sentimento trabalhar para mim, através da música, ao invés de me destruir.
 
9.
Eu trocaria todos os meus amanhãs por um único ontem.
 
10.
Todo mundo já esteve apaixonado e foi abandonado, e todo mundo já teve alguém que amou de verdade e que não foi capaz de amar. E isso é dor e é sofrimento, e é dessas coisas que eu falo quando canto, preciso acreditar nas palavras senão não consigo cantar. E lá estou eu expondo a minha alma, meus sentimentos, tudo o que tenho por dentro, e se olho a platéia e eles não estão entendendo, é como um soco na cara.
 
11.
Eu nunca vou conseguir ser um astro como Dylan ou Hendrix por que eu sempre falo a verdade...
 
12.
Solte-se e você será muito mais do que jamais sonhou ser.


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O que alguns bipolares famosos já disseram - Marilyn Monroe
O que alguns bipolares famosos já disseram - Jimi Hendrix

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Um bipolar e sua razão para lutar

O relato abaixo foi traduzido do Blog Hispano Trastorno Bipolar. Se preferir ler este relato na íntregra e em seu idioma de origem, clique aqui.


A seguinte experiência, diz José Luís, autor do Blog Hispano Trastorno Bipolar, nos foi enviada por um amigo da Argentina. M.C. mal tem 24 anos, mas já sabe bem o que é lutar dia após dia contra a enfermidade.

Vejamos a experiência de M.C.


Faz pouco mais de um ano, diagnosticaram-me com esta enfermidade e desde esse momento minha vida mudou para sempre...

Passei-a viajando, vendo todo tipo de psiquiatras e lendo livros referentes ao tema. Adquiri certo conhecimento... mas custou-me muito assumir o transtorno. Tentei mil vezes levar uma vida normal, como qualquer pessoa, mas dei-me conta de que sozinho ninguém consegue.

Tive minhas recaídas... e inclusive estive uma época internado em um hospital psiquiátrico. Caí com um quadro psicótico devido a problemas com o álcool... Pelo que leio, tristemente é algo comum na enfermidade e algo que se deve evitar.

Depois de passar uma época internado e melhorar um pouco, tive outra recaída, mas desta vez com um quadro de depressão "profunda". Foi um momento delicado, doloroso e grave. Não queria voltar a passar por isso nunca mais.

Acordava todos os dias pensando como fazer para tirar-me a vida da maneira menos dolorosa, tanto para mim como para minha família.

Mas graças a duas pessoas importantíssimas em minha vida não cheguei a cometer tal loucura. Essas pessoazinhas queridas são meus filhos. Tenho 2, uma menina de 5 aninhos e um menino de 4.

Eles são a razão pela qual acordo todas as manhãs, e é também por isto que quero curar-me.

Eu confesso; está custando-me muito porque não tenho uma pessoa que esteja ao lado meu, como quero, para que me apoie na luta... Estou praticamente sozinho nisto... e por isso é bom conhecer pessoas como vocês...

Hoje em dia, tenho um sonho: Constituir uma família.

Não vou jogar a toalha. José Luís, quero felicitar-te de novo pela página que criou... Foi de grande ajuda ler o que pensam as pessoas que passam pelo mesmo que eu.

Saudações,

M.C.


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Enfrentando a vida com Transtorno Bipolar
A Janela
É necessário? Não, não é necessário

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Transtorno Bipolar: Difícil diagnosticar, fácil tratar

Saiu mais uma postagem minha no Bipolar Brasil. CLIQUE AQUI para conferir!

Outras postagens minhas no BB
O que os leigos deveriam saber sobre bipolares (a mais compartilhada no facebook) 
Marta {resenha} + Promoção 
Depressão e Transtorno Bipolar num mundo de aparências

O que alguns bipolares famosos já disseram - Marilyn Monroe

1.
Por favor, não faça de mim uma piada. Termine a entrevista falando no que acredito. Não me importo em fazer piadas, mas não quero parecer uma. Quero ser uma artista, uma atriz com integridade.

2.
Ainda criança eu sonhava em ser bela, tão bela que chamasse a atenção de todo mundo quando passasse. O problema é que o sexo tornou-se um objeto e eu detesto ser objeto. Mas se tenho que ser símbolo de alguma coisa, ainda prefiro o sexual.

3.
Quem disse que as noites são para o sono?

4.
Eu não entendo por que as pessoas não são um pouco mais generosas com as outras.

 
5.
Sem preferências físicas ou de números. Não está faltando homem, está faltando amor.

6.
Qualquer coisa que mereça ser possuída, merece ser esperada.

7.
Sou egoísta, impaciente e um pouco insegura. Cometo erros, sou um pouco fora do controle e às vezes difícil de lidar, mas se você não sabe lidar com o meu pior, então com certeza, você não merece o meu melhor!

8.
Em Hollywood, a virtude de uma mulher conta menos do que o penteado.

9.
A morte de alguém é uma tragédia. Mas a morte de milhões é apenas uma estatística.

10.
A imperfeição é bela, a loucura é genial e é melhor ser absolutamente ridículo que absolutamente chato.

11.
Não me falta homem, o que me falta é amor.

12.
Ser derrotado é frequentemente apenas uma condição temporária. Desistir é que a torna permanente.


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O que alguns bipolares famosos já disseram - Janis Joplin
O que alguns bipolares famosos já disseram - Jimi Hendrix

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Série "O que alguns bipolares famosos já disseram"

Começa amanhã mais uma série de postagens no Mastigando Estrelas. Selecionei algumas frases, encontradas na Internet e atribuídas a bipolares famosos.

Procurei selecionar as mais interessantes ou aquelas que, de algum modo, nos lembrassem o transtorno bipolar. Seja como for, ao menos a título de curiosidade, essas frases não deixam de ser bem bacanas.

De quando em quando aparecem algumas notícias desagradáveis na Imprensa, sobre bipolares ou supostos bipolares, como a da promotora bipolar, que na verdade não era bipolar. Para contrabalançar, é sempre bom mostrar o outro lado das coisas. Porque tudo tem o seu lado bom e ruim.

Quem já leu o post Série "Bipolares famosos", em que discorro sobre a promotora bipolar e a Cristina Mortágua, sabe do que estou falando.


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O que alguns bipolares famosos já disseram - Marilyn Monroe