sexta-feira, 17 de junho de 2011

Revelar a bipolaridade ou não revelar. Eis a questão

Quem revela publicamente que é bipolar, certamente não poderá voltar atrás, ou terá que recorrer a uma grande mentira para negar o que foi dito. Seja como for, as palavras ditas ficariam na mente de quem as ouviu e haveria, pelo menos, a lembrança e a suspeita, que não se apagariam.

Mas um bipolar deve tornar público o diagnóstico? Vejamos.

Se uma pessoa diz que é bipolar, deve ter em mente o preconceito e o isolamento social que ela pode sofrer. Quanto mais uma pessoa depender de relações de compadrio para conseguir um emprego, por exemplo, mais oportunidades de emprego ela perderá, ou mais tempo ela ficará desempregada. Obviamente, um bipolar pode se aposentar por invalidez; mas digamos que você queira continuar trabalhando e dependa de contatos sociais para conseguir um emprego. Nesse caso, o que você faria?

Sempre se pode conseguir um emprego através de competência e habilidades próprias. Mas suponhamos que, justamente onde você vive, as melhores oportunidades de emprego são aquelas que você consegue através de relações de compadrio. Nesse caso, volto a perguntar, o que você faria?

Seja como for, você nunca saberá o que é ser descriminado se nunca passar por isso. Mas garanto que você perderá coisas que você jamais havia imaginado que pudesse perder. Pessoas que você considerava boas, lhe parecerão más. Pessoas que tomavam a iniciativa de lhe dizer bom-dia na rua, nem sequer responderão a seus cumprimentos se por acaso você agora tomar a iniciativa. Pessoas que não falavam mal de você abertamente, em público, agora se sentirão à vontade para fazê-lo. Pessoas que antes eram suas amigas, negarão o fato ou ficarão acanhadas em dizê-lo. Pessoas de quem você gostava e que bem ou mal lhe davam atenção, talvez se tornem esquivas, risonhas, maliciosas ou indiferentes...

Obviamente, você passará por tudo isso em maior ou em menor grau. Tudo depende de outros fatores. Por exemplo: Se você é rico, pertence a uma família respeitada na cidade ou vive entre pessoas bem-informadas, você sofrerá esse preconceito em menor grau. Mas, se você é de classe social baixa, não está ligado a pessoas influentes ou poderosas e vive entre pessoas com pouca ou nenhuma instrução, provavelmente você experimentará esse preconceito em maior grau.

Mas veja: Se você pertence a uma família local importante, as pessoas respeitarão, na verdade, sua família. Quem espera um favor de um familiar seu (um vereador, um empresário, etc.) não destratará você para não incorrer no desagrado daquele.

Agora, antes de passarmos adiante, me deixe tornar clara uma coisa. Se eu falava em pessoas instruídas, eu me referia a uma instrução que abrange o TAB. De modo geral, advogados sabem Direito. Engenheiros sabem Engenharia. Arquitetos sabem Arquitetura. Todos esses profissionais, certamente, são pessoas instruídas; mas isso não significa que eles conheçam o TAB, que tenham bom coração ou sejam isentos de preconceito.

Muitos advogados, por exemplo, só sabem Direito. Alguns, nem isso. Poucos advogados sabem mais que Advocacia, do mesmo modo que poucos engenheiros sabem mais que Engenharia. O mesmo se pode dizer de arquitetos.

Mas até aqui estivemos falando dos outros, isto é, da reação das outras pessoas. Será que podemos usar os defeitos dos outros para justificar nossos atos? Eu diria que não; mas eu também diria que tampouco podemos ignorar que vivemos entre outras pessoas e que, muitas vezes, dependemos delas.

Mas, havendo tanta coisa contra uma revelação, por que uma pessoa revelaria publicamente que é bipolar?

Não, meu caro leitor; não discorramos mais. Passemos à conclusão.

Quem já revelou o diagnóstico, não volte atrás. Quem ainda não revelou, pense bastante antes.

Se você revelasse o diagnóstico, eu o elogiaria. Mas, se você continuasse a manter segredo, eu não o criticaria.

Quem revelou o diagnóstico publicamente, ajude a diminuir o estigma e levar informação a quem ignora o tema. Quem não revelou o diagnóstico, faça o mesmo como um não-bipolar o faria. Quem é bipolar, mas não quer revelar a identidade, faça o mesmo usando pseudônimo ou anonimamente, sem mostrar o rosto.

Neste último caso, talvez alguém diga que é livre a expressão do pensamento, mas vedado o anonimato. Sendo assim, o que dizer das pessoas que dão entrevistas à TV sem mostrar a face, sem se identificar? Parece que isso virou moda...

Quem puder, quem tiver algo a dizer, fale. Como puder.

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Faça este post circular por aí. Ajude a diminuir o preconceito contra bipolares.

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito legal tópico, sou Bipolar e todo mundo(família e amigos) praticamente sabem(ao menos agora) mas antes havia o medo de contar a minha família, os amigos souberam primeiro.E ainda bem que não sofri nenhum preconceito com isso, mas sei que não é a sorte de todos.

Abraços.

Anônimo disse...

Olá Bruno, bem eu já tive depressão e tive o início da síndrome do pânico, isso desencadeado através de uma somatização de coisas que vivia em 2005. O meu trabalho me ajudou a superar, mas vivo em vígilia, já que o meu processo é hereditário tb. Bem mas minha vida pessoal ajudou mto a chegar nesse processo, tive falecimento de uma filha aos 8 anos de idade que tinha uma doença rara chamada Síndrome de Alagille. Achei interesse postar um pouco da minha situação, pq infelizmente existe preconceito sobre diagnóstico psiquiátrico. Minha mãe sofre mto naquela época que as pessoas eram consideradas loucas, mas se todos tivessemos a noção que todos somos loucos, que vivemos em uma massa de sociedade onde não fazemos nada pra mudar. Por isso que faço terapia e praticarei o autoconhecimento sempre. Obrigada por passar aqui, abraço Cynthia

RSR disse...

Minha família sabe que sou bipolar, uma parte nega. No tabalho assumi em frente a todos, em uma reunião. Trabalho em uma escola inclusiva e temos muitos alunos com diversos tipos de diagnóstico. Uma vez chegou um esquizofrêico sem diagnóstico e todos começaram a se reunir para saber oq iam fazer. Uma lá falou que ee devia ser bipolar e q bipolar era perigoso. Lóóógico que não aguentei, levantei, falei, dei uma aula. Me expus. Não me arrependo. E depos disto mais duas colegas foram falar comigo dizendo serem bipolar e q ficaram muito feliz com minha atitude. Sou fincionária pública, não serei demitida por isto. Lógico que não sairei falando assimndo em público mais. Mas foi bom, profissionais da minha área que trabalham com crinaças diagnosticadas, não podem ter este preconceito com bipolares. Até pq minha escola existem 9 professores readaptados de suas funçoes, e 4 deles por laudos psiquiátricos. Mas pra namorado??... ainda não fiz isto não.