sábado, 2 de abril de 2011

Padrões de Beleza

Jamais vira coisa tão perfeita como o seu rosto pálido, os olhos franjados de sedosos cílios muito espessos e o seu ar meigo e doentio. (George Sand)

Não, meu caro leior, não voltamos no tempo. Essa frase de Sand pode ser antiga, mas este blog é tão moderno quanto a última espinha que saiu em seu rosto (se você é jovem). Acabo de reproduzir a frase e, quando você a tiver lido, provavelmente não terão se passado mais que alguns dias.

Mas a beleza, por mais que siga um padrão, continuará sendo subjetiva. Eu, por exemplo, não discordo da ideia de beleza da frase acima. Não me parecem feias as meninas com ar doentio ou com o rosto muito pálido. E por que seriam?

Tampouco direi que a beleza reside unicamente nas meninas muito alvas ou claras, porque a beleza, como eu disse, é subjetiva; varia de acordo com a opinião das pessoas. E a opinião de uma única pessoa também pode variar ou abarcar vários gostos ao mesmo tempo! Ela, a beleza, pode estar tanto nas meninas morenas ou negras como nas alvas. Duvida? Basta ler Endechas a Bárbara Escrava, de Camões, que são umas rendondilhas sobre uma escrava negra, escritas pelo mesmo poeta que tinha um pendor todo especial para descrever louras.

O que acontece a respeito dos padrões de beleza, é que as pessoas podem ter opiniões iguais ou parecidas, e a maioria das pessoas já definiu o que é uma mulher bonita. Mas veja bem: a maioria e, não, todos.

Ainda assim, se posso me valer de uma reportagem de TV exibida dias atrás, na Globo, direi mais algumas coisas sobre Padrões de Beleza:

As pessoas que vivem nas periferias ou bairros mais pobres (nas favelas, como disse a reportagem) admitem como belas as mulheres que estão acima do peso. Isso equivale a dizer grandes nádegas, grossas pernas, fartos seios, uns 10 ou 15kg acima do peso. Era o tipo de mulher que Paulo Honório, em São Bernardo, chamava de uma peitaria, um pé-de-rabo, um toitiço. A preferência desse grupo de pessoas também parece ser por mulheres morenas ou mulatas. Mas o que há de mais em tudo isso? Nada, desde que você não leia o próximo parágrafo.

As pessoas de classe média alta, que vivem nos bairros mais nobres ou ricos, consideram como belas as mulheres bastante magras, bem abaixo do peso, brancas ou muito brancas, cabelo liso, formas delicadas, etc. Toda uma Madalena, mulher por quem Paulo Honório se apaixonou no romance acima, apesar de sua predileção por uma peitaria, um pé-de-rabo, um toitiço... Em poucas palavras, esse segundo grupo de pessoas tem uma ideia de beleza bastante diferente, ou até oposta à das classes mais baixas... Pois é! Parece que as classes mais altas têm muito o que concordar com George Sand...

Sendo assim, a ideia de beleza pode variar de uma época para outra, de um país para outro, de uma classe social para outra; e também de uma pessoa para outra... Para ilustrar este último caso, temos Camões e Paulo Honório, ainda que em se tratando de Camões (poeta clássico) possamos dizer que as meninas muito alvas fazem parte da ideia clássica de beleza e estavam na moda. Moda do século XVI, é claro!

E agora vamos chegando ao ponto aonde eu queria chegar. Se você é menina (e provavelmente é, porque 99% dos leitores deste blog na verdade são leitoras), se você é menina basta ser bela para uma só pessoa, a que você deseja. Obviamente, você não precisa satisfazer o gosto da maioria se você já satisfaz o gosto de quem você ama. (Se você está pensando em agradar a mais de um, por favor desconsidere este parágrafo; ele será inútil para você...)

Também é possível que você satisfaça a ideia de beleza da maioria e, não, a ideia de beleza de quem você ama. Seria a pior das hipóteses (a não ser que você queira agradar a muitos; pois, nesse caso, seria até bom...). Mas voltemos a George Sand...

Por que não poderíamos concordar com ele hoje em dia, mesmo que sejamos minoria? Aquelas duas classes sociais, por exemplo, não estão de acordo sobre o que é beleza nem de longe...

Por fim, se pensarmos em Camões e Paulo Honório, também poderemos dizer que às vezes não estamos de acordo nem com nós mesmos! Porque, se Paulo Honório preferia um tipo de mulher, no fim das contas acabou se apaixonando e casando com o tipo oposto... E Camões, se tinha uma predileção pelas louras, acabou escrevendo um de seus poemas mais famosos ao retratar uma mulher negra... ainda que, no caso de Camões, não devamos nos esquecer dos artifícios que a arte, às vezes, exige do artista.


Moral da história: talvez você seja mais bonita do que pensa. Depende de quem a olhe.


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