terça-feira, 8 de março de 2011

Amigos, amores, parentes

TEXTO DA JÉSSICA

(...) Amigos? Duvido cada dia mais que essa palavra possa se tornar real em mim. Sigo agora da mesma maneira como eu entrei naquela escola. Sigo sem peso algum, sem culpa alguma. Só com a certeza de que tudo isso partiu do fato de que eu sempre quis ajudar as pessoas. E é isso que ganho em troca. E isso dói muito. Ah, como dói! Mas foi o que restou. (...)


COMENTÁRIO

Muitas vezes o que chamamos amizade ou amor tem mais partes de interesse, conveniência, comodismo ou dependência que de outra coisa.

Se você tinha amigos na escola que "desapareceram" de sua vida quando a convivência escolar acabou, isso significa que essa amizade tinha mais partes de conveniência ou comodismo que propriamente de amizade. Já disseram que o mais triste não é quando os amigos se tornam inimigos, mas desconhecidos... Estamos falando de indiferença.

A vida em Sociedade não é diferente, salvo que essas relações acontecem em maior escala. Vejamos o exemplo de um cidade pequena. Seus habitantes vivem em harmonia, as pessoas se respeitam, são amáveis ou amigáveis, evitam discussões ou contendas, etc. Para um observador ingênuo, essa é a vida perfeita que não vemos nas grandes cidades. Mas um observador crítico diria que essas pessoas não se desentendem porque se trata de uma pequena comunidade. É difícil se desentender com uma pessoa que você vê todos os dias na rua, porque se trata de um lugar pequeno. É difícil brigar com alguém cujo parente é seu patrão ou patrão de parentes seus, etc. A vida harmoniosa numa cidade pequena tem mais partes de hipocrisia que de verdadeira harmonia.

A vida em família tampouco é diferente, salvo que essas relações acontecem em menor escala. É fácil respeitar ou amar a uma pessoa com quem você tem relações de dependência. Não se trata de respeito ou amor puramente. Só podemos dizer que respeitamos ou amamos alguém de verdade se essas relações de dependência ou conveniência estão ausentes, mas elas nunca ou quase nunca estão.

São nossos amigos de verdade, ou nos amam verdadeiramente, aquelas pessoas que não dependem de nós, mas ainda assim nos ajudam. A amizade ou o amor é uma coisa prática, ao contrário do que muitos pensam. Quem não é amigo atráves de ações não é amigo. Quem não ama através de ações não é amante. (Entendamos aqui "amante" como "aquele que ama".)

Exemplo: Quando Jesus pregava e lhe disseram que sua família se aproximava, ele explicou: "Minha família é quem acredita em mim." Com isso ele pôs à parte aquelas relações de conveniência, dependência, gratidão, etc. Com isso ele não deixou que a sorte ou a mera convivência determinasse quem era sua família. E olha que ele estava falando de Maria! O que ele quis dizer com sua fala acima é que as ações das pessoas determinariam quem eram os seus familiares. E, se ele agia assim com sua família, provavelmente agia de igual maneira com seus amigos...

Curiosamente, deixamos que a mera convivência ou o mero comodismo determinem quem são nossos amigos. De modo geral, nossos amigos estão naqueles grupos que frenquentamos: escola, bairro onde moramos, trabalho, etc. De igual modo, nossos amigos costumam pertencer a mesma classe social, religião ou partido político que nós. Tudo isso resulta muito conveniente, até mesmo prático se buscamos algo que vai além da amizade ou afinidade. É fácil conviver com pessoas da mesma classe social, religião, partido político, etc. se esperamos algo deles. Um pai que queira casar sua filha com pessoas ricas terá prazer em conviver com gente de dinheiro e lhes falar da filha, mas provavelmente terá desprazer ao lidar com pessoas pobres e, nesse momento, provavelmente não citará a filha. Igualmente, estreitar os laços de "amizade" com o chefe do partido político não seria nada mau para quem quer subir no partido ou na política. Seria conveniente. Sendo assim, essa amizade teria boas partes de interesse...

Em poucas palavras, ausência de conflitos ou de discussões não significa que há amizade. Significa apenas que não há motivos para brigas. Então, quando surge alguma pequena contenda, ainda que minúscula, descobrimos que as amizades se desmancham como pó...

Na verdade, não é que havia amizade, mas ausência de conflitos, de motivos para discordar ou brigar.

Obviamente, há amizade, há amor, há relações em que a simpatia é sincera. O que acontece é que, como há pessoas falsas ou interesseiras, só descobrimos quem são nossos amigos quando surge um problema. Só descobrimos quem nos ama quando aparece alguma dificuldade. A parte mais triste é que às vezes um "grande amor" chega ao fim devido a uma pequena dificuldade. Essa pequena dificuldade pode ser a mudança de um dos amantes para a cidade vizinha, a perda de emprego de um deles ou sua admissão noutro emprego menos rentável, fato que o rebaixará a outra classe social, etc. Nesses casos, há mais partes de conveniência ou vaidade que de amor puramente.

Pensar em Romeu e Julieta, portanto, é pensar que eles deixaram de lado até mesmo as diferenças entre suas famílias em nome do amor que sentiam. Havia mais partes de amor em sua história que de outras coisas, ou melhor, só havia partes de amor... Muitas relações amorosas que vemos hoje em dia, comparadas com a de Romeu e Julieta, chegam a ser ridículas, infantis, para não dizer falsas...

As pessoas costumam lamentar mais a perda de um carro, de uma casa, de um imóvel que a perda de seus amigos, parentes e afins. Vemos "amores eternos" que acabam em um ano, vemos "grandes amores" que não suportam uma pequena discussão... Tudo isso é muito corriqueiro, acontece todos os dias em quase todos os lugares... E, porque é comum ou corriqueiro, vai deixando de ser ridículo para "fazer parte da paisagem"...

As amizades sinceras, assim como os grandes amores, são raros. Mas ao mesmo tempo todos dizemos ter amigos sinceros e viver grandes amores... Ou estamos certos ao afirmar tal coisa, ou estamos iludidos... geralmente iludidos... Às vezes, nos iludimos por ingenuidade; às vezes, porque queremos nos enganar um pouco para sermos felizes ao menos um pouco, o que não deixa de ser igualmente humano...

Seja como for, somos nós que temos que mudar se há pessoas falsas, interesseiras ou comodistas a nosso lado. Porque somos nós quem as escolhemos como amigos, namorados, cônjuges, parceiros comerciais, etc. Somos nós que temos que separar o joio do trigo em vez de lamentar que o trigo tem suas partes de joio ou palha...

Se alguém nos prejudica ou toma nosso tempo porque acreditamos que essa pessoa é nosso amigo, parente ou amante, somos nós que lhe damos tal poder. Sendo assim, somos nós que temos que mudar. Jesus tinha aquela atitude com a família dele. Devíamos ter uma atitude igual ao menos com nossos amigos, na falta de coragem para termos uma atitude igual com relação a nossos parentes...

Devemos mudar de atitude ou lamentar enquanto não mudamos...


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